Guilherme Freire - Análise simbólica de O Hobbit

Análise simbólica de Guilherme Freire sobre O Hobbit, o romance de fantasia que se passa na Terra-média e acompanha Bilbo Bolseiro, Gandalf e a Companhia de Thorin, numa jornada para recuperar o lar e o tesouro dos anões das garras do dragão Smaug. [Acesse a descrição completa]

Descrição completa

Estou trazendo aqui um vídeo onde o professor e palestrante em filosofia Guilherme Freire faz uma rica análise simbólica, algo que sempre acho interessante, sobre O Hobbit, o romance de fantasia de grande sucesso do autor inglês J. R. R. Tolkien publicado em 1937 que se passa na Terra-média.

O enredo do livro acompanha Bilbo Bolseiro, o hobbit titular que se junta ao mago Gandalf e aos treze anões da Companhia de Thorin em uma jornada para recuperar o lar e o tesouro dos anões das garras do dragão Smaug. Essa jornada leva Bilbo de seu pacífico ambiente rural e vida aburguesada para um território mais sinistro, onde ele passa por um verdadeiro crescimento pessoal e espiritual.

No vídeo, publicado originalmente em agosto de 2020, Guilherme aborda, além da simbologia de O Hobbit, a influência da filosofia do mito em Tolkien e como essa perspectiva molda a jornada de Bilbo. Apesar de ser um assunto mais denso, o vídeo é breve e não é de difícil absorção. Pode ser também um incentivo para re(ler) o romance com outros olhos. A seguir, tem um texto que fizemos baseado na exposição.

A jornada do conforto à coragem

Freire começa destacando a estrutura clássica da narrativa: Bilbo parte de sua zona de conforto — o tranquilo Condado — e embarca, a contragosto, em uma aventura. No início, ele é o exemplo do homem preso à rotina e aos pequenos prazeres materiais: a colher, o garfo, o conforto da casa.

É Gandalf quem o retira desse comodismo, representando a figura do chamado — aquele que desperta o herói para uma missão maior, uma ruptura que simboliza o início da transformação interior: sair do conforto para enfrentar o desconhecido e amadurecer espiritualmente.

O dragão como símbolo do apego e do orgulho

Segundo Guilherme, o eixo simbólico central de O Hobbit está no confronto entre Bilbo e Smaug: o dragão, sentado sobre um tesouro sem utilidade real pra ele, representa a doença do apego material — a idolatria dos bens, o orgulho e a esterilidade do acúmulo sem propósito.

No desenrolar deste conflito, Tolkien mostra que a verdadeira riqueza não está nas posses, mas no desapego e no crescimento moral. Bilbo, inicialmente tão apegado aos próprios objetos domésticos, aprende no percurso a se desprender e a agir com coragem e altruísmo, sendo assim a oposição entre o pequeno hobbit e o gigantesco dragão a contraposição entre humildade e soberba.

A simbologia do batismo e a vitória sobre o mal

Guilherme analisa ainda um detalhe significativo: quando Bilbo se descreve a Smaug como “aquele que entra na água e sai com vida”, há uma sugestão batismal: a água simboliza a morte para a vida antiga e o renascimento para uma vida nova — algo incompreensível ao dragão, que encarna o orgulho e o fechamento em si mesmo.

O ponto fraco de Smaug — a fenda em sua couraça, localizada no coração — é interpretado como o símbolo da falha espiritual do orgulhoso, incapaz de amar. Assim, o dragão é derrotado não pela força bruta, mas pela virtude e pela tradição, representadas por Bard, que confia na herança dos antepassados e na providência divina.

O retorno e a verdadeira conquista

Ao regressar ao Condado, Bilbo descobre que seus bens foram saqueados — mas ele não se abala, o que mostra que o herói volta espiritualmente enriquecido, mesmo sem conservar seus antigos tesouros, pois aprendeu a valorizar o que é essencial: amizade, sacrifício, tradição e fé.

Guilherme observa que, para Tolkien, há sempre uma providência superior guiando os eventos, mesmo quando os personagens não a percebem, um fio invisível que transforma uma simples aventura em uma parábola sobre o crescimento e a graça.


É isso aí. Estes vídeos antigos do canal do Guilherme ainda tem muito o que falar, e particularmente prefiro até este formato, mais neutro, didático e sem responder perguntas bobocas sobre assuntos alheios do chat.

E, como dito lá pra cima, gosto destas paradas de leitura simbólica das obras. Acaba sendo um atrativo em si que soma às histórias e renova o interesse nelas. No caso, então, de acordo com Guilherme, O Hobbit é mais do que fantasia: é um espelho da alma humana. Profundo, né? Mas, pelo que entendi, Bilbo representa cada um de nós — chamados a sair do comodismo e enfrentar nossos dragões interiores para crescer em humildade e sabedoria.

O vídeo termina com uma recomendação: ler (ou reler) O Hobbit com atenção a seus símbolos, o que não significa assistir as adaptações cinematográficas, que, ao contrário da trilogia O Senhor dos Anéis, são bem fracas (só gostei de metade do primeiro filme).

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Abraços!

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